quinta-feira, 16 de abril de 2015

Solução homeopática? (1 de 3)

Este é o primeiro de uma série de três breves textos sobre homeopatia. Sim, tem um trocadilho no título.

Muitas pessoas acreditam em homeopatia. Eu tenho uma tendência a simpatizar muito com essas pessoas, mas por outras razões. Muitos estão envolvidos em coisas tão legais que eu quase me sinto mal de ter que falar isso aqui. Muitas delas acreditam em muitas coisas que eu também acredito: acham que a indústria farmacêutica é uma das nossas instituições mais podres; estão atentas aos efeitos colaterais dos remédios convencionais; acham que nos alimentamos mal; pensam que o mundo poderia ser bem melhor do que é, etc. Concordo com tudo isso e com muito mais. Entretanto eu não acho que homeopatia seja uma coisa boa. Eu não acredito que ela funcione e não creio que seja solução para qualquer problema. Não detenho a palavra final sobre o assunto (e nem sobre nenhum outro) e estou pronto pra ser convencido do contrário. Só faço um pedido: leiam sem preconceito e deixem um pouco de lado as paixões...



segunda-feira, 30 de março de 2015

Além das janelas e maçãs: o mundo do software livre

Esse ano começou meio nerd para mim. Comecei a me relacionar um pouco mais intimamente com computadores e a entrar num mundo que me é relativamente novo: o mundo do software livre. Andei lendo sobre o assunto e resolvi compartilhar um pouco do que aprendi com os leitores desse blogue. Cabem aqui dois avisos sobre essa postagem. Primeiro: é uma postagem com uma carga ideológica considerável. Segundo: é uma postagem amadoríssima, portanto talvez seja decepcionante para quem tem algum conhecimento sobre software livre e informática em geral. Terceiro (quem lê dois lê três): Perdão, mas tem vários termos em inglês.

Uma atualização está disponível para seu computador. Linux: "Legal, mais conteúdo livre". Windows: "De novo não!". Mac: "Ó, só 99 dólares!".


sexta-feira, 20 de março de 2015

Vermes, Fezes e Tubarões de Água-Doce: Uma história de 270 milhões de anos

Onde hoje se situa o município de São Gabriel, há aproximadamente 270 milhões de anos atrás, existiam ecossistemas completamente diferentes dos atuais. Nenhum mamífero, nenhum lagarto ou serpente caçavam nestas matas, nenhuma flor desabrochava nos pampas e o canto dos pássaros inexistia. Se observássemos a região iríamos indagar se não estaríamos em um filme de ficção científica em um ambiente árido quase que extra-terrestre. Em um destes oásis, em uma época de estiagem, um braço d’água ficou isolado, os peixes amarronzados e brilhantes acabaram presos em seu próprio ambiente. Foi o suficiente para que parte desse ecossistema acabasse perpetuado em camadas de rocha sedimentar. "Congelados" pelo tempo profundo, retornaram a superfícies vestígios de uma época em que tubarões nadavam em rios e os "anfíbios" poderiam facilmente ser confundidos com grandes crocodilos.

 Figura 01 – Afloramento onde foram encontrados coprólitos (fezes fossilizadas). Em detalhe a grande descoberta: um coprólito de tubarão!
Foto:  Voltaire Paes Neto. Foto do Detalhe:  modificado de Dentzien-Dias et al 2012.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O diálogo de Haldane com uma senhora descrente da evolução




J. B. S. Haldane  fez muita coisa além de ser um dos três principais arquitetos da Síntese Moderna. Certa vez o sujeito estabeleceu um diálogo com uma senhora descrente da evolução. A sua resposta é pedagógica.


Esta é uma história transmitida oralmente por John Maynard Smith e publicada no livro O Maior Espetáculo da Terra As Evidências da Evolução (2009), de Richard Dawkins (e reproduzido abaixo).




domingo, 11 de janeiro de 2015

A seleção natural e os genes explicam toda a evolução da vida?


Quando se trata de evolução biológica há uma crença comum: a ideia de que a seleção natural pode explicar toda – ou quase toda – a evolução da vida. Nessa narrativa evolutiva os genes também ocupam um lugar privilegiado. Esse modo de explicar a evolução foi popularizado para o público por Richard Dawkins, principalmente em sua discussão do gene egoísta e do darwinismo universal. Ficou conhecido para o público em geral que seleção natural + gene = evolução. Os biólogos, por sua vez, adotam massivamente essa perspectiva desde a década de 1940, quando foi estabelecida a Síntese Moderna da evolução.

Os genes são considerados centrais na evolução porque eles são “estáveis” e possuem capacidade replicativa, abarcando os processos de herança e variação. Essas propriedades, combinadas com a seleção natural, podem ser consideradas uma condição permanente da evolução da vida: as populações biológicas continuamente “sofrem” o escrutínio da seleção natural, a qual pode ter efeitos evolutivos graduais pela permanência dos genes ao longo das gerações. Mas afinal, qual o alcance da seleção natural e dos genes para explicar a evolução da vida? Sem querer esgotar essa questão (que está longe de algum tipo de consenso), pretendo discutir brevemente alguns aspectos do alcance explicativo da seleção natural e da genética evolutiva nos dias de hoje. 

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Do mau legado de Galileu



Hoje é um tanto inócuo dizer que a Terra gira em torno do Sol. Não é exatamente o tipo de discurso que faz você se sentir inteligente numa conversa de bar. Não serve nem mesmo para as festas de fim de ano: sua vó não vai achar que você é o gênio da família se você vier com esse papo.

O que hoje é um assunto monótono, entretanto, já foi motivo de muita polêmica. Muita água rolou pra tirar a Terra do centro do Universo e colocá-la num lugar geometricamente não tão atraente - "apenas" um pedaço de pedra girando em torno do Sol. Galileu defendeu a ideia copernicana do heliocentrismo e isso foi uma afronta ao que se julgava verdadeiro na época - a ideia de que a Terra é o centro de todo o Universo. Ir contra essa ideia é contrariar, em suma, duas grandes forças: em nível social, o poder da Igreja sobre as pessoas, perpetuado através da manutenção da ignorância; em nível individual, o egocentrismo. A quebra de paradigma promovida por Copérnico e Galileu foi um dos golpes orientados à noção individual de que somos o centro de tudo. Outros exemplos são a ideia de ancestralidade comum entre humanos e outros organismos sugerida por Darwin, a sugestão da existência do subconsciente defendida por Freud, a descoberta de exoplanetas e outros locais onde a existência de vida é provável, etc. Todas essas ideias confrontam nossa sensação de que somos uma peça especial do Universo, o fim para o qual tudo mais é meio.

domingo, 7 de dezembro de 2014

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Resposta ao manifesto da Sociedade Brasileira do Design Inteligente


Àquelxs que quiserem se somar na assinatura deste manifesto-resposta, deixem o nome e a instituição da qual fazem parte nos comentários desta postagem. É interessante que, de preferência, o(a) assinante estude ou trabalhe em áreas minimamente relacionadas à teoria evolutiva. 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Três concepções de "cientificismo"



Tenho me deparado inúmeras vezes com o termo cientificismo na literatura em filosofia da ciência, nas ciências humanas e, ultimamente, em debates a respeito da relação entre análise social e ideias de transformação da realidade, ou seja, sobre a relação entre teoria e ideologia. Resolvi pensar mais a fundo a respeito disso, e me dei conta de que podemos distinguir pelo menos três concepções que são frequentemente tratadas com este mesmo termo. Duas dessas concepções esposam cientificismos altamente problemáticos, como veremos. A outra traz um “cientificismo” saudável e necessário, de modo que seria mais interessante a denominarmos cientismo, para evitar a carga pejorativa que aquele termo ganhou com o tempo. A análise a seguir será tanto teórica quanto histórica. Foram adicionadas cinco notas referenciadas no texto e que estão ao final do mesmo na tentativa de esclarecer algumas questões, fazer citações e disponibilizar material para leitura. Mas vamos, então, às três concepções de cientificismo.

A natureza no ocidente e no zen (cuidado, texto holístico!)

Quando você está assistindo a uma dança, por acaso interrompe o dançarino para perguntar-lhe "e agora aonde é que você vai e qual é, exatamente, a significação de todos esses movimentos"? Não. Isso é coisa de cientista. Isso de analisar minuciosamente as partes. Acontece que muitas vezes essas "partes" não são mais significativas do que os metros o são para uma tábua, ou do que os quilos são para um saco de farinha. Talvez sejam um pouco mais verdadeiros: as ondas como partes do mar.