quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

A herança de caracteres adquiridos como oposição entre Lamarck e Darwin: de onde vem, afinal, essa pseudo-história?

O texto abaixo é de Maria Elice Prestes, do Instituto de Biociências da USP, e foi publicado na edição de dezembro de 2017 do Boletim de História e Filosofia da Biologia. Trata-se de uma resenha do livro intitulado George John Romanes and the struggle for Darwin’s mantle, de Roberto de Andrade Martins. Para adquirir a edição impressa ou kindle do livro, clique aqui.



Na escola, nos livros didáticos e em muitos materiais de divulgação da história da ciência é frequente encontrarmos a contraposição entre as teorias evolutivas de Lamarck e de Darwin. Em geral, afirma-se que Lamarck explicou o surgimento de novas espécies por herança de características adquiridas pelo uso ou desuso, enquanto Darwin descartou essa explicação, atribuindo a origem das espécies à seleção natural, decorrente da luta pela sobrevivência.

domingo, 10 de dezembro de 2017

O Fim do Sonho Americano - Documentário com Noam Chomsky, 2015



Do canal do youtube ao qual o vídeo está vinculado:
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Em uma série de entrevistas abrangendo quatro anos, o crítico social Noam Chomsky discute como a concentração de riqueza e poder entre uma pequena elite polarizou a sociedade americana e provocou o declínio da classe média. Chomsky dá uma verdadeira aula sobre a economia, a política e a sociedade do nosso tempo, baseado em 10 princípios da concentração de riqueza e poder.

— OS DEZ PRINCÍPIOS DA CONCENTRAÇÃO DE RIQUEZA E PODER —

1. Reduzir a Democracia
2. Moldar a ideologia
3. Redesenhar a economia
4. Deslocar o fardo de sustentar a sociedade para os pobres e classe média
5. Atacar a solidariedade
6. Controlar os reguladores
7. Controlar as eleições
8. Manter a ralé na linha
9. Fabricar consensos e criar consumidores
10. Marginalizar a população
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sábado, 9 de dezembro de 2017

Sim, a saída é por esquerda, mas isso não diz muito

Uma ideologia política de direita pode ser considerada emancipadora? Se não pode, por que alianças com políticos/partidos de direita poderiam? E se essas alianças também não podem ser consideradas emancipadoras, por que poderiam estratégias políticas que utilizam estruturas de um sistema que reproduz essa ideologia?

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Os danos de se ignorar a natureza social da ciência

Em julho de 2017, a filósofa Sara Weaver publicou o artigo "The harms of ignoring the social nature of science" numa das mais importantes revistas de epistemologia e filosofia da ciência, a Synthese.

Resolvi traduzir livremente o seu resumo e palavras-chave, além de apresentar uma sistematização do artigo em forma de tópicos, de modo a ir além do simples resumo e possibilitar ao/à leitor(a) brasileiro(a) um contato mais próximo com o texto. Quem quiser ler o artigo original em inglês, é só baixá-lo com a ajuda dos russos (http://sci-hub.bz/ou http://sci-hub.la/). Não pretendo aqui fazer uma avaliação do artigo, mas apenas colocá-lo para leitura e possível debate.


OS DANOS DE SE IGNORAR A NATUREZA SOCIAL DA CIÊNCIA

Resumo
Neste artigo, argumento que os filósofos da ciência têm a obrigação de reconhecer e se engajar na natureza social das ciências que avaliam, se essas ciências são moralmente relevantes. Ciência moralmente relevante é ciência que possui risco de prejudicar humanos, não-humanos ou o meio ambiente. Meu argumento e a abordagem que desenvolvo são informados por uma análise da literatura da filosofia da biologia sobre a crítica da psicologia evolutiva (EP), o estudo da evolução da psicologia humana e do comportamento. A partir desta literatura, discutirei dois métodos diferentes de crítica científica. O primeiro eu chamo de abordagem de "detecção da verdade (truth-detectional)". Aqueles que adotam essa abordagem estão prioritariamente preocupados com a verdade das afirmações da EP, como verdade que pode ser determinada por evidências. O segundo eu chamo de abordagem de "dimensão social (socio-dimensional)". Aqueles que adotam essa abordagem falam sobre a produção e a verdade das afirmações da EP, mas dentro de um quadro social. Nessa abordagem, a legitimidade e a legitimidade percebida das afirmações da EP não são separadas dos processos institucionais e sociais e dos valores que levam à sua produção. Eu mostro que a abordagem de detecção da verdade arrisca prejudicar a sociedade e a filosofia da ciência, mas que a abordagem de dimensão social evita esses danos. Os filósofos da ciência, portanto, deveriam adotar uma abordagem de dimensão social para a avaliação da ciência moralmente relevante.

Palavras-chave: Ciência e valores. Filosofia da ciência socialmente relevante. Psicologia evolutiva. Filosofia feminista da ciência.

Segue abaixo uma tentativa de esboço do texto em forma de tópicos.

1 INTRODUÇÃO

- Filosofia da ciência socialmente relevante (socially relevant philosophy of science, SRPOS).

- A SRPOS tem potencial para gerar benefícios à sociedade, à ciência e à filosofia da ciência.

- Dois tipos de crítica da ciência: abordagem de detecção de verdade (truth-detectional approach) e abordagem de dimensão social (social-dimensional approach).

- Estudo de caso com críticas à psicologia evolutiva (EP), exemplificando os dois tipos de abordagem mencionados acima.

2 A ABORDAGEM DE DETECÇÃO DA VERDADE (THE TRUTH-DETECTIONAL APPROACH)

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Richard Levins sobre Ciência e Política (Vídeo)

Acabo de assistir a uma baita palestra em espanhol do matemático, cientista e ativista político Richard Levins (1930 - 2016). A palestra foi realizada na Universidad Nacional Autónoma do México (UNAM) há aproximadamente dois anos antes de sua morte (novembro de 2013; Levins faleceu em janeiro de 2016). Ao que parece, @s ouvintes são majoritariamente biólog@s em formação.

Richard Levins em 2015.
A palestra tem por título "Uma perna dentro, uma perna fora", em alusão ao modo como Levins entende que deveríamos nos posicionar na universidade. Para ele, como uma instituição social, a universidade carrega as contradições da sociedade capitalista. Nesse sentido, seria preciso compreendê-la de um ponto de vista crítico, dando-nos conta de que parte do conhecimento gerado nas universidades é estimulado, financiado e concretamente utilizado para fins que visam maximização do lucro e que, frequentemente, são prejudiciais à humanidade (como os casos, que ele cita, de indústrias de cigarro, farmacêuticas, de sementes e agrotóxicos, como a Monsanto, etc.). Devido a isso, ainda, certas perguntas não são colocadas e certas áreas de pesquisa ficam à margem, mesmo tendo alto potencial. É o caso, que ele discute com detalhe, da agroecologia. Como ex-agricultor em Porto Rico, tendo participado de movimentos camponeses e pela independência do país, tornando-se, posteriormente, ecólogo e biólogo evolutivo, Levins tem muito a nos dizer a esse respeito.

Ele nos alerta para o fato de que a ciência é resultado de um processo histórico; que é importante perguntar-nos por que colocamos as questões que colocamos e de onde partem as agendas de investigação. Mais do que isso, ele nos instiga a pensar para além do que as disciplinas especializadas nos colocam; a dar passos atrás e ver as questões de um ponto mais externo; a vincular problemas ambientais com problemas humanos e sociais (e vice-versa); a sempre se perguntar, enquanto montamos um problema de pesquisa, "onde o mundo entra?"; a ter, nas suas palavras, uma "visão do todo", "dialética".

Tudo isso (e muito mais) está no vídeo.
  • A palestra de Richard Levins tem aproximadamente 50min.
  • Ela começa aos 6min da parte 1 e vai até os 25min da parte 3.
  • A segunda metade da parte 3 e toda a parte 4 é de perguntas e respostas.
  • É possível utilizar a legenda automática em espanhol.
Essa palestra rendeu um livro de mesmo nome: "Una pierna adentro, una pierna afuera" (Levins, 2015), que pode ser baixado gratuitamente. Aproveito para divulgar, também, uma pequena autobiografia de Levins, caso alguém se interesse. E abaixo seguem os vídeos: