segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Evidências para a existência de carma (ou Darwin e besouros) e uma dica de filme

Sinceramente não sei bem o significado de carma. Parece possuir vários, de acordo com o sistema filosófico/religioso. Desses significados o que me interessa aqui é o do senso-comum, que a maioria das pessoas pensa quando usa o termo; uma consequência negativa para uma ação. 

O carma nesse caso caiu sobre Darwin, e na forma de um pequeno besouro.


Desenho de Albert Way, mostrando Darwin caçando besouros.



Durante uma fase de sua juventude Darwin foi um colecionador de besouros. Nas palavras do próprio (tradução livre):

“Era a mera paixão por colecionar, pois eu não os dissecava e raramente comparava suas características com descrições publicadas, mas os tenho nomeados de qualquer maneira. Vou dar uma prova de meu zelo: um dia, retirando a casca velha de uma árvore eu vi dois besouros raros e os segurei um em cada mão; então eu vi um terceiro besouro, que não poderia perder; logo eu coloquei o que estava na mão direita em minha boca. Ele ejetou um líquido intensamente acre, que queimou minha língua e me forçou cuspir o besouro, que foi perdido, assim como o último capturado”. 

Tratava-se de um besouro-bombardeiro que não gostou nada de ser capturado. Pertencentes ao gênero Brachinus, esses besouros possuem a capacidade de gerar pequenas explosões misturando duas substâncias (hidroquinona e peróxido de hidrogênio). 

Mas o besouro não se contentou em deixar Darwin falando esquisito por um tempo. Aqui entra a segunda parte da vingança do besouro-bombardeiro contra Darwin. Ele sorrateiramente influenciou alguns cientistas para acreditarem que ele não poderia ter evoluído por seleção natural. Tornou-se assim um dos principais exemplos utilizados pelos defensores do Design Inteligente, muito em voga no Brasil ultimamente. Fala sério! Só pode ser carma.  Veja o vídeo abaixo:


Admito que “pedações de insetos não evoluem” me fez rir. O besouro-bombardeiro é utilizado como exemplo porque alguns pesquisadores não acreditam que ele tenha evoluído por um processo evolutivo gradual; os estágios intermediários iriam todos explodir. A alternativa dada é que ele teria sido desenhado por um projetista inteligente muito parecido com o que seria Deus.

Uma explicação possivelmente mais parcimoniosa do que a inserção de um ser supremo extremamente complexo é dada por Dawkins (no vídeo abaixo).



Além da bela camisa que Richard está usando, o que chama a atenção no vídeo é que misturando as duas substâncias que o besouro-bombardeiro utiliza para gerar a explosão nada acontece. Isso porque a reação precisa de um catalisador. Dawkins eleva gradualmente a concentração do catalisador até atingir o resultado esperado. Talvez o besouro-bombardeiro tenha evoluído de ancestrais que foram aumentando gradualmente a concentração do catalisador, com certa segurança, ao longo de sua evolução. 

Digo talvez porque não sei se existem trabalhos testando essa hipótese. Mas a beleza dessa possibilidade é que ela não engessa o pensamento investigativo. Aceitar a explicação do projetista dá uma resposta rápida, mas de certa forma encerra o assunto. Se para todas as perguntas com respostas complicadas fosse dada essa resposta o conhecimento científico poderia ficar estagnado.

Por último, a dica de filme. Vi recentemente Relatos Selvagens, filme argentino dirigido por Damián Szifron, com elenco contando com Ricardo Darín. O tema central do filme, que direciona os vários relatos apresentados, é a vingança. Sentimento bem conhecido pelo besouro...

2 comentários:

  1. Muito bom!
    Sinceramente não consigo entender como os criacionistas dão um primeiro "pulo" ao afirmar que é impossível que a evolução tenha gerado uma determinada estrutura (como a desse besouro, ou o flagelo bacteriano, ou o olho humano, etc.). Afirmar que não se sabe como isso pode ter acontecido é uma coisa, mas dizer que é IMPOSSÍVEL é outra bem diferente. Mas o segundo "pulo" no raciocínio -- e esse tá mais pra um "salto com vara" -- é quando eles afirmam que a estrutura em questão foi originada por um ser superior, um projetista inteligente. Essa pretendida "explicação alternativa" cai num problema duplo: primeiro, não explica nada (como esse ser originou a estrutura determinada?); segundo, insere um novo problema (como esse ser se originou?).
    O teu texto me lembrou uma frase bastante conhecida de Marx, escrita em "O 18 Brumário de Luís Bonaparte". Ele disse que "a história se repete primeiro como tragédia depois como farsa". Interpretando essa frase de modo a possibilitar uma analogia com teu texto, poderíamos dizer que a tragédia foi o Darwin ter queimado a língua com esse besouro, e a farsa foi os criacionistas utilizarem esse mesmo besouro como "prova" da existência de um projetista! hehehe. Mas ainda acho que isso é melhor representado com a ideia de "carma" mesmo. ´´E mais místico! hehehe

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  2. Como o fato de eu observar um besouro-bombardeiro funcionando corretamente hoje descarta a hipótese de que, no passado, alguns tenham falhado miseravelmente e, quem sabe, até mesmo explodido? Por favor, criacionistas... mais respeito à memória dos besouros-bomba ancestrais.

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