domingo, 1 de novembro de 2015

Vamos falar sobre carne?


Recentemente a Netflix lançou uma nova edição do documentário chamado Cowspiracy, e dessa vez com Leonardo DiCaprio como produtor executivo. Não que isso mude muita coisa, mas é um nome que chama a atenção e não aparece uma única vez no desenrolar do filme. O questionamento deste documentário dá-se pela voz e rosto de Kip Andersen. O seu ponto principal é: a Agropecuária é a industria mais destrutiva no planeta hoje e por que ninguém, nem mesmo as grandes organizações ambientais, fala a respeito?

Os números na imagem abaixo (retirados daqui) são bastante didáticos e, no mínimo, assustadores. Entretanto, os exemplos que podemos internalizar são os mais chocantes. Não importa se deixarmos todas as luzes de casa acesas, escovar os dentes com a torneira aberta, tomar banhos de 1h, andar de carro por quilômetros; nada disso faz diferença diante de um pequeno hamburguer de bife que comemos no almoço. Para produzí-lo foi necessário 2500L de água, pelo menos 20ha de pasto (para gado extensivo), sem contar toda produção de metano envolvida (estima-se que metano é 86x mais impactante para o efeito estufa que o dióxido de carbono, dada a estrutura e o momento angular de sua molécula). Como mostra a imagem abaixo: uma dieta vegana produz 50% menos CO2, usa 1/11 de petróleo, 1/13 de água e 1/18 de terra comparados a um consumidor de carne. O mesmo vale para a indústria de lacticíneos. É impossível uma produção para toda a demanda mundial por leite. Para 4 litros de leite é necessário 3800L de água. Essa eficiência é baixíssima.


Parafraseando Howard Lyman, “Não se pode ser ambientalista e comer produtos animais, ponto! Engane-se se quiser. Caso quiser alimentar o seu vício, faça-o. Mas não se considere um ambientalista”. Lyman é um dos entrevistados no filme, um senhor que abandonou a profissão de engenheiro agrônomo e a agropecuária após 40 anos. Ele ficou famoso após participar do programa da Oprah e revelar uma verdade maquiada pela propaganda da indústria alimentícia e pela mídia. Pagou caro. Revela que gastou milhares de dólares em função de processos que se decorreram após o acontecimento.

Todas as maiores organizações ambientalistas ignoram, mas por quê? GreenPeace, Sierra Club, Surfrider, Oceana, RainForest Action Network, Amazon Watch, WWF, SeeSheaper. Será devido a possíveis prejuízos políticos e perda de doações?

De acordo com o Relatório Worldwatch ONU de 2009, 51% da emissão de gazes de efeito estufa vem da agropecuária, diante de 13% vindo do transporte (carros, ônibus, aviões, navios, trens). O metano é imbatível contra o dióxido de carbono. Para termos idéia de escala: o gado produz 130 vezes mais escremento do que toda população humana, com a diferença de que não há obviamente tratamento sanitário.

O ex-diretor do GreenPeace, Will Anderson, fala hoje abertamente sobre a situação: “Organizações ambientais bem como outras organizações não dizem a verdade sobre o que o planeta precisa vindo de nós, enquanto espécie. É frustrante, porque a informação está diante deles. Está documentada em artigos científicos e periódicos. Está disponível a todos, mas as organizações ambientais recusam-se a agir. Não se vê a Greenpeace defender que a dieta é importante, que a agropecuária é o problema. Recusam-se a analisar a questão, como outras organizações ambientais. A comunidade de ambientalistas está falhando conosco e com o ecossistema. É muito frustrante vê-los fazer isto”. Recentemente GreenPeace se manifestou a respeito das discussões apontadas pelo documentário (o link para sua leitura encontra-se nas referências). Como bem citaram no filme: “compactuar com o silêncio de nossos amigos é mais doloroso do que ouvir de nossos inimigos”. Resta saber a quem atribui-se cada papel.

Mas e a pesca? Estima-se que 75% das áreas de pesca são super exploradas de acordo com relatórios da ONU. Pelo método de redes industriais a proporção não faz jus: para cada 450g de pescado há 2,3kg que não são utilizados! Isso significa que para o consumo atual de 100 milhões de toneladas de peixe por ano, há 500 milhões de toneladas mortas por nenhum motivo (tubarões, golfinhos, baleias, etc.) E seu mecanismo de esgotamento em série é também ineficiente. Esgota-se uma espécie e a pesca avança para outra espécie, e assim por diante. A pesca não é uma fonte de proteína sustentável.

Isso tudo somente para abordar questões ambientais, nem se quer foi abordado a ética, o especismo, a nutrição, etc. Há diversos motivos para uma mudança radical a uma dieta vegana. Sam Harris, por exemplo, concorda. Esta semana ouvimos o podcast deste célebre filósofo pedindo por ajuda para iniciar uma dieta vegana com seguração nutricional. Ele está convencido de que este é o caminho mais correto a seguir de maneira ética. Harris chega a arriscar-se, comparando a matança de animais na indrústria alimentícia com atos bárbaros já superados, como queimar supostas bruxas. É exemplar ouvir doutores de renome admitindo a falta de conhecimento em certas áreas e pedindo por ajuda.

Estudei por seis anos engenharia de minas tentando contribuir na melhoria dos métodos para tornar essa atividade menos agressiva possível ao meio ambiente. Minha conclusão ao término do curso foi que contribuo mais sendo vegano. A ironia apresenta-se, mas não ignora a culpa de diversos campos industriais tão enraizados em nossa sociedade que passam despercebidos; seja a mineração, seja a industria alimentícia. Devemos estar atentos e dispostos a mudar diante das evidências.

Referências:


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