quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Pensamento Crítico - Vídeo

Segue um vídeo do "youtube" sobre pensamento crítico, com áudio em inglês e legenda em espanhol.

A meu ver, o mais interessante do vídeo é a importância que ele concede à análise de argumentos, para que não caiamos em falácias tanto formais como informais. O intuito é nos alertar para a estrutura lógica do argumento e para a consistência de suas premissas. É um vídeo muito interessante que merece ser divulgado!



Apenas uma ressalva: a última frase do vídeo é a seguinte, "Perguntar-se acerca dos riscos [das novas tecnologias] é razoável. Porém, exigir 100% de segurança detém a evolução da tecnologia". 

Não há nada de errado com essa proposição. Sua conclusão, inclusive, segue logicamente de sua premissa. No entanto, penso que nós, como população, devemos decidir se queremos todas as novas tecnologias que nos são impostas. E elas são impostas de forma vertical, geralmente através de corporações que visam unicamente o lucro até os nossos governos, e destes para a população. O que quero dizer é que este argumento dá a entender (não estamos mais falando de lógica formal, mas de pragmática) que não se deve deter a evolução da tecnologia.

Penso que para qualquer nova tecnologia (ou empreendimento) primeiro devemos nos perguntar para que e para quem ela serve, quais são suas justificativas para que seja implementada. Se esta etapa for passada, ou seja, se é de interesse da população e para melhoria de suas condições, então deve-se ter um amplo estudo para avaliar a segurança desta nova tecnologia ou para avaliar os possíveis impactos de uma nova obra num determinado local. Isto é o que deveria fazer (e não faz), por exemplo, a CTNBio no que tange a questões de biossegurança.

A partir daí, apenas depois de boas justificativas e de estudos sérios sobre o tema deve-se medir seus prós e contras. Ou seja, decidir através da relação custos/benefícios. Mas aqui entra outro problema, esses custos-benefícios não podem ser avaliados de maneira setorial ou reducionista. Não se pode analisá-los unicamente por um viés econômico, por exemplo. Até porque a economia não é fim em si mesma, ela deve servir a população (isso deve ser dito, já que temos hoje uma inversão deste princípio, ou seja, a sociedade como tal serve à economia). Esta análise deve ser, também, socioambiental, cultural, etc. Mas de nada adianta se estes aspectos não forem relevantes para a conclusão tirada. Ou seja, mesmo que leis obriguem um estudo completo incluindo todos estes aspectos, é necessário que se conclua com base em todos eles, coisa que raramente é feita. Vide, por exemplo, estudos realizados em decorrência da possível implantação de empreendimentos, que, no mais das vezes, são estudos feitos por grupos contratados pela própria empreiteira. O estudo é feito, mas a conclusão já estava dada. É um caso exemplar do que a filósofa Susan Haack chama de raciocínio fingido.

Aquelas pessoas pró-todo-tipo-de-tecnologia devem ter um orgasmo ao saber que a agricultura brasileira é baseada em monoculturas transgênicas de espécies exóticas com uso de agrotóxico!

Isso poderia ser visto como "evolução da tecnologia"? Se sim ou se não, a questão é que este tipo de agricultura trás enormes impactos socioambientais. Ao mesmo tempo que contribui para a exclusão social, acaba com a biodiversidade e com as culturas tradicionais.

Para finalizar, minha única objeção ao vídeo é essa. Se iremos tratar sobre o uso de novas tecnologias temos que ser altamente críticos e pesar os custos-benefícios tendo por finalidade o bem-estar da população à longo prazo. De qualquer forma, o vídeo é muito interessante e realmente estou divulgando ele porque gostei e não para criticá-lo. Embora resolvi escrever baseado numa única objeção a ele. Por mais que eu tenha levado este meu pequeno texto para o lado da aplicação tecnológica, o mais brilhante no vídeo é seu aspecto teórico, ou seja, mostrar-nos a necessidade de um rigor na análise de argumentos, protegendo-nos de possíveis falácias.

Um comentário:

  1. Concordo que sempre se deve pesar, de forma muito crítica, os prós e os contras. Não só em tecnologia, mas em quase tudo na vida, sobretudo quando a decisão influenciará a vida de muita gente. Mas o Cláudio está errado em imaginar que CTNBio deve fazer isso. De jeito nenhum. A função dela é avaliar riscos, isto é, ver se há uma probabilidade concreta de danos e, se eles vierem a ocorrer,se serão graves ou não. Cabe também a ela dizer que medidas devem ser tomadas para reduzir ricos e remediar danos. Mas não é função dela dizer se a tecnologia é útil ou não à sociedade. Quem pode opinar sobre isso é o Conselho Nacional de Biossegurança (o CNBS, ou Conselhão). Mas em geral esta tarefa é delegada ao mercado. Se muitos compram e usam, é porque a tecnologia presta. Tão simples assim. Nenhum agricultor é obrigado a oomprar sementes transgênicas. Pode comprar não GM e pode nem comprar, plantando suas próprias sementes. Porque a adoção dos transgênicoos cresceu tão rápido? Porque o mercado vê vantagens. Do mesmo jeito que os celulares ou outra tecnologia qualquer.

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