quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Por um ambientalismo classista

O que é constantemente propagado como "economia verde" por governos e grandes corporações é nada mais que um capitalismo verde. Isso ficou bastante claro no documento final da Rio+20, de 2012, e está presente no discurso daqueles que defendem essa proposta. Como toda forma de capitalismo, ele é movido pela produção de mercadorias (através da exploração da força de trabalho) e acúmulo de capital. Sua ânsia megalomaníaca para a mercantilização da vida é incompatível com os pressupostos da conservação ambiental.

Por isso, ou lutamos por uma saída real -- que envolve a promoção de novas formas de sociabilidade, distintas das relações fomentadas pelo capitalismo -- ou estaremos contribuindo para o colapso ambiental. E colapso ambiental significa o colapso de tudo o mais.

No fundo, a tese que está sendo defendida é a seguinte: ou o ambientalismo é classista, o que lhe dá meios para a possibilidade de alcançar seu ideal, ou estamos falando de um ambientalismo ingênuo, que pode ser bonito no discurso, mas que nunca chegaria a reverter esse processo de destruição do meio ambiente. Um pressuposto básico desse ambientalismo classista é o de que o grande responsável pela degradação ambiental não é "o homem" genericamente, mas o homem imerso em determinados sistemas sociais. Considerar que o problema é simplesmente o homem, independente de seu modo histórico-social de produção, distribuição, consumo e descarte, além de niilista tem semelhanças com a argumentação liberal, na qual o indivíduo é analisado de forma a ocultar a importância de níveis acima do individual na moldagem dos processos.

Toda proposta que tem por objetivo a transformação social precisa estabelecer os meios para alcançá-la. E os meios precisam ser coerentes com os fins. Se somos ambientalistas sinceros, nossos fins são muito diferentes daqueles de interesse para o capitalismo verde. E exatamente por isso precisamos ter olhos críticos para os meios de que esse capitalismo (pintado de verde) se utiliza, de modo a não reforçá-lo sem nos darmos conta. Se não estamos atentos a isso, caímos no aqui chamado "ambientalismo ingênuo". Os meios a ser estabelecidos por ambientalistas sinceros precisam ser coerentes com seus fins, e por isso não pode se confundir com os meios do capitalismo verde.

Se desejamos um ambientalismo que vá além de "enxugar gelo"; um ambientalismo com propostas de longo prazo, que contribua para a criação de um mundo novo, precisamos inevitavelmente de um ambientalismo classista. Os protagonistas dessa luta são os de baixo. É construindo o empoderamento das classes oprimidas que teremos a mudança necessária. Os valores do ambientalismo não estarão presente na sociedade quando forem impostos, de cima, por governos, mas quando estiverem encarnados amplamente nas camadas populares. E isso só poderá ser resultado de um trabalho de enraizamento com visão de médio e longo prazo, e que esteja comprometido com o empoderamento das massas. O ambientalismo será classista ou não será!

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