domingo, 10 de fevereiro de 2013

Conceitos bungeanos - II

Dando continuação a esse grupo de postagens ( veja Conceitos bungeanos - I aqui) seguirão três verbetes do Dicionário de Filosofia de Mario Bunge (Editora Perspectiva, Coleção Big Bang, 2006). Nosso objetivo com estas postagens é que sirvam como embrião para um bom debate.

ACASO
Há essencialmente dois conceitos de acaso: o tradicional ou epistemológico e o ontológico ou moderno. a. Epistemológico - Acaso = imprevisível, não antecipado ou incerto. Exemplos: a colisão acidental de dois carros, e o tropeço acidental em um fato de uma espécie previamente conhecida. Um ser onisciente, é de se presumir, não necessitaria deste conceito. Tampouco o mecanismo lhe seria útil. Cabe lembrar a tese de Laplace: Se conhecêssemos todas as causas e todas as condições antecedentes, seríamos capazes de predizer o futuro inteiro. Portanto, o conceito epistemológico de acaso é apenas um nome para a ignorância. b. Ontológico - Evento casual = evento pertencente a uma seqüência randômica (aleatória), isto é, aquela em que cada membro tem uma probabilidade definida. Exemplos: decaimento radiotivo, embaralhamento aleatório de um maço de cartas, escolha aleatória de um número, acasalamento aleatório de insetos. O acaso ontológico é objetivo: eventos aleatórios possuem propensões definidas, independente do sujeito cognoscente. Estas propensões objetivas nada tem a ver com a incerteza, que é um estado mental. Podemos nos sentir incertos sobre um valor objetivo de probabilidade, mas esta é uma propriedade de estados efetivos ou variações de estados (eventos). Além do mais, trata-se de propriedades objetivas de particulares e não de coletivos. Por exemplo, um átomo num estado excitado tem uma probabilidade definida de emitir um fóton no segundo seguinte. Conseqüentemente, diferentes átomos do mesmo tipo, todos no mesmo estado excitado,  decairão em tempos diferentes. Devido à lei das probabilidades, estes tempos não estarão espalhados de maneira desordenada, mas hão se ajustar-se há um padrão. Assim, o acaso ontológico, longe de ser o mesmo que algo dotado da qualidade do indeterminado, é um tipo de legalidade ou determinação. Em outras palavras, há leis do acaso. Um conceito diferente, porém relacionado a ele, é o de: acidente.

AGNOSIA - Ignorância. O estado inicial de exploração e pesquisa. Do ponto de vista do ceticismo radical, ignorância é também a fase final da indagação.

CETICISMO - A família das doutrinas segundo as quais algum ou todo conhecimento é duvidoso ou mesmo falso. Há duas variedades: sistemático e metódico. O ceticismo sistemático, total ou radical, é o duvidar de tudo. O ceticismo metódico ou moderado utiliza a dúvida como um modo de aferir ou propor novas idéias. O ceticismo sistemático, tal como o de Sexto Empírico ou Francisco Sánches, é impossível porque toda idéia é avaliada ou conferida contra outras idéias. O ceticismo metódico devia ser a norma em todas as buscas racionais: a gente duvida somente quando há alguma razão para duvidar.

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