segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A fauna do litoral rio-grandense

Nosso litoral está ficando completamente descaracterizado... se continuarmos no ritmo atual, vai se transformar numa grande cidade linear ligando Torres ao Chuí. Cidades fantasmas que multiplicam em várias vezes seus habitantes na alta temporada, sobrecarregando o sistema de distribuição de energia, saneamento, comércio, lixo e assim por diante... Casas de luxo ocupadas apenas por 2 meses em condomínios gigantescos - com muros de metros de altura e cercas elétricas - que mais parecem campos de concentração...
Há quem diga que nossa Planície Costeira era um outro Pantanal, com seu sistema de lagoas e campos. A abundância de animais sem dúvida era alta. Existem registros do século XIX, para a região de Pelotas, onde o Império Brasileiro recebia dezenas de peles de onças, por mês! Os banhadões que iam até o Uruguai eram um importante local de ocorrência do cervo-do-pantanal, estando hoje quase extinto no estado e sendo representado por apenas alguns indivíduos no Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, em Viamão. Com todas as ameaças presentes, grande parte da fauna está extinta - entre aves migratórias e grandes mamíferos - e continua a desaparecer...

Segue um trecho do livro do Pe. Balduíno Rambo (já comentado antes no blogue, aqui), A Fisionomia do Rio Grande do Sul, que descreveu nosso litoral em meados do século passado.



por Cristiano no Minifúndio de Varanda

Ao resgatar textos de uma obra escrita entre as décadas de 40 e 50, me dei conta que muito já se perdeu da fauna, flora e beleza natural do litoral rio-grandense. A degradação de habitats e a extinção de espécies é irreversível e para sempre. A urbanização, a poluição, os condomínios e um turismo perigosamente predatório já modificaram irreversivelmente a vida natural da região.

Em Tramandaí, Capão da Canoa ou Arroio do Sal você já viu algum desses bichos?

O texto a seguir foi adaptado de P. Balduíno Rambo, 1956.

Na fauna marítima, encontramos um mundo incontável de seres pequenos e mínimos, os peixes e os cetáceos (baleia, boto, toninha, etc.), e relacionados a esses os intrigantes sambaquis.

O mais comum dos vertebrados marítimos é o pingüim, que no inverno, depois dos temporais, aparece em grande número na costa brasileira, onde morre. Parece que o pingüim se deixa levar para o norte pela corrente fria das ilhas Falkland até o ponto onde esta se encontra com a corrente quente do nosso litoral, e ali, falto das condições naturais de vida, sucumbe. Os lobos e leões marinhos igualmente derivam desde as Falkland, aqui habitando a ilha dos lobos ou ocupando aos montes as areias das praias, onde se movem com tão pouco jeito, que por vezes são colhidos pelas rodas dos caminhões.

Na praia distinguem-se animais passivamente atirados sobre a areia: urtiga do mar, mãe-d’água, mãe-d’água-vela, ovos de raias e cações, ovos de caracóis de casca transparente, ramos brancos de coral com numerosos animais retraídos ou mortos, teredens ou gusanos, grande número de conchas pertencentes a várias espécies, como a concha púrpura, o caracol barril, a ostra, a esponja furadora, briozoários, ouriços do mar, e restos de peixes. Na zona dos rochedos de Torres encontramos colônias de mexilhões, cobrindo aos milhares as pedras lavadas pela água; vermes de tubo de areia ou calcário; cracas presas ao rochedo; o caramujo pião; anêmonas do mar; e várias espécies de sirís.

Na praia lavada pelas ondas distinguimos a tatuíra, os mariscos, o marisco cavador, os aselos arenosos (Isopodes – pequenos crustáceos parecidos com formigas), o sirí azul, a aranha do mar, o caranguejo espinhoso e o caranguejo eremita.

Dentre as aves figuram o socó, o bigoá, o gaivotão, a gaivota rapineira, a gaivota branca, o cara-cará, o chimango do campo, a fragata, as andorinhas do mar, a gaivota comum, os bejaguís, o talha mar.

Ao pé das dunas o tuco-tuco cava suas galerias subterrâneas; à beira da ressaca, às vezes lavado pela espuma, o grande sapo cururú, de ventre branco e dorso escuro malhado de branco, procura alimento.

Nas dunas vemos pequeníssimas formigas abrigadas ao pé das touceiras de grama; o cascudo rapineiro da praia e outros celeópteros corredores, disparam, com grande rapidez, sobre a areia; as pistas do sapo cururú, da lagartixa das dunas, da lagarta cabeluda da borboleta bruxa e do maçarico da praia se cruzam em todas as direções, produzindo, nos dias calmos, desenhos curiosos sobre o branco lençol das areias; em pequenos buracos vive um forficulídeo, erradamente chamado de lacraia; na areia ainda úmida abrem-se as tocas do sirí das dunas, de pernas achatadas, couraça dorsal tenaz e branca como porcelana; embora um pouco rara, ainda vimos a cobra nariguda, inofensiva, ocupada na caça de cascudos e provavelmente também de lagartixas.

Na zona do campo já quase não se pode falar duma fauna diferente dos outros campos rio-grandenses. O guarachaim, o mão-pelada, o veado campeiro comum – cervídeo abundante em todo Estado – e o veado galheiro que só ocorre na zona do litoral, porque nas outras partes do Estado faltam os grandes banhados, que constituem o seu paradeiro.

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