Aos cinco dias de fevereiro de 1676, o papel da carta que o físico inglês Isaac Newton enviaria a seu rival e correspondente, Robert Hooke, era crivado à tinta com os seguintes dizeres: "Se posso ver mais longe, é porque estou sobre os ombros de gigantes". É com essa ideia em mente que pretendo trazer para o Adaga alguns pequenos (me cobrem se ficarem longos muito longos...) textos acerca da vida e da importância de alguns figurões do conhecimento humano. Ornamentemos nosso saber com a sabedoria de pessoas mortas!, como diz um certo autor.
Pra começar, queria mostrar aos senhores um pouco da contribuição de um rapazote muy dedicado a conhecer o mundo natural, o Pe. Balduíno Rambo.
Desde pequeno, o Rambito já tinha lá seus interesses pelo mundo natural. Balduíno foi estudar filosofia em uma Universidade alemã, mas sua vida acadêmica na Europa foi recheada de experiências como naturalista, sendo que suas valiosas anotações foram posteriormente publicadas. Regressou das terras germânicas em 1931, tornando-se, então, professor de História Natural daquele colégio requintado de Porto Alegre, o tal do Anchieta, do qual passou a fazer parte.
Ordenou-se em 1936; sabe-se lá o motivo... dizem as boas e más línguas que o Balduíno era charmosão e muy bem cotado pelas moças de mais fino trato da época.
A curta vida de Pe. Rambo foi inversamente proporcional à competência com a qual tratava sua vida acadêmica. Nos seus 56 anos de existência, nosso amigo tornou-se professor da UFRGS e também do que viria a se tornar a UNISINOS. Suas ações não se limitaram ao meio estritamente acadêmico: Rambo foi um entusiasta das mais variadas formas de geração e divulgação do conhecimento, tendo sido um vetor importante na consolidação do Jardim Botânico de Porto Alegre, na fundação da revista Iheringia, na implantação de Unidades de Conservação, etc.
Foi na Botânica que nosso amigo celibatário focou seus estudos. Conheceu profundamente toda a extensão do território estadual, tendo descrito toda sua fisionomia, os processos geológicos de formação das regiões e, principalmente, a vegetação. Sua obra principal, "A Fisionomia do Rio Grande do Sul" é um compêndio de conhecimento sobre a natureza do estado. Apesar de ter sido lançada há mais de 50 anos, a obra consegue manter-se atual, mostrando a dedicação do autor ao tema. Além do mais, sua leitura é muito prazerosa, o vocabulário é simples e acessível, apesar de muito cuidadoso e detalhista. Um livro de cabeceira para quem se interessa pelo assunto.
Também publicou outras obras de cunho filosófico, literário e científico, além de notas sobre sua vida pessoal.
Anos depois de sua morte (1961), ainda é possível ver sua obra ganhar vida nos herbários e mapas que elaborou. Seu legado intelectual é mantido, em grande parte, pelo Colégio Anchieta e pela UNISINOS, além de inúmeros outros órgãos que tiveram sua colaboração.
Se me permitem um pouco de divagação, deixo-lhes com a imagem de um homem apaixonado pela natureza, que conheceu como ninguém as entranhas do estado em que viveu, parando de rancho em rancho, sempre a procura de conhecimento, uma boa charla e um mate amargo. É fácil se perder imaginando suas caminhadas pelas matinhas nebulares, percorrendo córregos que cortam o planalto e rondam as guaritas, analisando o canto das aves, desenhando as curvas das coxilhas gaúchas e, acima de tudo, traduzindo em informação de qualidade as belezas de um Rio Grande num estado que poucos tiveram a chance de conhecer.
Abraços
Escrevia muito bem mesmo. Uma das dificuldades para transmitir o conhecimento científico é a linguagem pouco acessível que muitos textos possuem. O padre Rambo escreveu de maneira rigorosa mas ao mesmo tempo poética.
ResponderExcluirAcho que não perderia um domingo na igreja pra ouvir o Pe. Balduíno Rambo.
Muito legal o texto.
Abraços.
Que Padre gaudério esse Balduíno Rambo!
ResponderExcluirÉ um Martín Fierro naturalista...
Imagina a missa desse padre xiru, alguem arrisca?
ResponderExcluirBelo texto rapaz.