sexta-feira, 19 de março de 2010

Porco-do-mato

Cumprimentos.

Hoje venho trazer aos senhores um texto muy explicativo, elaborado por um companheiro uruguayo loco de bagual, o Ismael Brack. Também chamado de Brackinho, o guri traz a tona um assunto que deveria estar na ponta da língua de toda a gente do Rio Grande. As construções de Usinas Hidréletricas (aquelas máquinas grandes de transformar rio em lago + energia elétrica) ao longo do Rio Uruguai/Pelotas previstas pelo PAC. Como denuncia o vivente, essas obras ignoram estudos ambientais necessários e, como já foi visto no passado, podem contar com Relatórios de Impacto Ambiental fraudulentos barbaridade. Uma das espécies animais ameaçadas nesse entrevero é o porco-do-mato, ou queixada, que se encontra em um só bando lá pras bandas de Vacaria. Aí que o bugre velho deve repensar os conceitos, pesar as consequências e, na base do estudo sério, avaliar a real situação dos ambientes jurados de morte por essa iniciativa. Da crise de perda de biodiversidade decorre uma crise socioeconômica, e ambas dependem de uma crise de valores da humanidade, que tem sido o grande catalisador desse cenário. Agora que iniciei o assunto de um jeito meio frouxo, deixo com vocês a firmeza do nosso convidado.
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Queixada, mais um que se vai?

Ismael Verrastro Brack
O queixada (Tayassu pecari) é uma espécie de porco-do-mato, criticamente ameaçada, pertence à Ordem Artiodactyla, família Tayassuidae, representada por três espécies e distribuída desde o sul da América do Norte até o sul da América do Sul. No Brasil, e no Rio Grande do Sul, existe uma outra espécie da família, o cateto (Pecari tajacu). Os queixadas apresentam uma distribuição original que abrange desde o sudoeste do México até o nordeste da Argentina, tendo suas ocorrências mais austrais no Rio Grande do Sul.
Aparentemente, estes estavam presentes em grande parte deste Estado, mas principalmente no norte onde havia uma maior extensão de florestas. Existem registros históricos no Rio Grande do Sul em São Lourenço do Sul, bacias dos rios Taquari e Antas (Ihering 1892), na Serra Geral e em Pelotas (Araújo 1897). Os últimos registros eram do Parque Estadual do Turvo, no final da década de 90, quando ocorreu a eliminação de um grupo, entre 10 e 18 indivíduos, na borda do Parque. Kasper (2007), após dois anos de estudos, considerou o queixada extinto do P. E. do Turvo e segundo o Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul, ali estaria o último local de ocorrência da espécie.
Entretanto, durante o monitoramento de fauna da UHE de Barra Grande (2006-2010), constatou-se a ocorrência de queixadas na sua área de influência, no município de Bom Jesus (28°17′52.73″S ; 50°43′47.42″O) e a pelo menos 7 km do canteiro de obras da prevista UHE de Pai Querê.
A UHE de Pai Querê é mais uma das mais de 20 hidrelétricas previstas pelo PAC para a bacia do Rio Pelotas, que transformarão esse rio num enorme colar de lagos que cruzará a região sul do Brasil. Essa barragem, com 150 metros de altura, entre o município de Bom Jesus (RS) e Lages (SC), acabará com um dos últimos remanescentes bem conservados de Floresta Ombrófila Mista (Mata com Araucária). A hidrelétrica criará um lago com pelo menos 80 km de extensão e 6.125 ha dos quais 64,17% da área são cobertos por florestas e 19,26% por campos de altitude e pastagens. A região, que é considerada Núcleo de Reserva da Biosfera, pela Unesco, abriga grande número de espécies raras, endêmicas e ameaçadas de extinção. Também é apontada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) como área de extrema importância biológica, portanto prioritária para a conservação da biodiversidade. Além disso, o volume de energia gerado pela usina será de apenas 292 MW, equivalente à duplicação do Parque Eólico de Osório, o que mostra a não compensação de todos os danos socioambientais que serão causados.
A UHE de Pai Querê causará a morte de mais de 3 milhões de árvores nativas, além das, aproximadamente, 180 mil araucárias e colocará em risco de extinção pelo menos duas dezenas de espécies de peixes endêmicos e outros organismos reófilos (restritos a corredeiras).
No que se refere às últimas e raras populações de queixadas restantes no RS, este animal desempenha um importante papel ecológico na dispersão das sementes de várias espécies vegetais e se constitui em uma das principais presas do puma (Puma concolor), podendo formar varas com mais de 250 indivíduos.
Além da manutenção do habitat natural desses animais, também é importante que não ocorra redução de indivíduos e isolamento genético entre populações, o que também poderia levar à extinção local. Portanto, é importante que se mantenha uma conexão com as populações que existem em Santa Catarina, o que, em parte, já foi quebrada pelo lago da UHE de Barra Grande. A área a montante de Barra Grande (área prevista para a UHE Pai-Querê) torna-se, assim, estratégica e não pode ser comprometida com esse novo lago.
A destruição de seu habitat e a fragmentação (isolamento) podem terminar recheando a lista de animais considerados extintos, ou potencialmente extintos, no RS, como a onça-pintada (Panthera onca), o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), a ariranha (Pteronura brasiliensis), o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), a arara-azul-pequena (Anodorhynchus glaucus), o gavião-real (Harpia harpyja), entre muitas outras espécies que poderiam ser citadas.
Não existe nenhum estudo específico com esses animais no Estado, portanto não se conhece quase nada de sua biologia na região, mas o queixada pode desaparecer antes que qualquer estudo possa ser feito. Não vamos deixar que esse crescimento econômico, a qualquer custo e sem nenhum tipo de preocupação ambiental, termine de destruir as riquezas que ainda restam no Rio Grande do Sul.
Hidrelétrica de Pai Querê? Não, obrigado!

O queixada, acima, é uma espécie de porco-do-mato.
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Retirado de http://www.inga.org.br/?p=1358.

3 comentários:

  1. Parabéns Brackinho! Ótimo trabalho e muito esclarecedor. Sintético e direto! Quem dera que muitos que levantam argumentos contra a construção da UHEPQ fosse tão esclarecidos em relação ao verdadeiro impacto que tal empreendimento vai acarretar a flora e fauna daquela região. Teu texto tem rodar os olhos, os ouvidos, as bocas e, principalmente, as MENTES de todos!!!!

    Mais uma vez PARABÉNS!

    Abraços.

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  2. Mas bah! Este tal de blogue anda más educado que piá de estancieiro!

    Já que o açude corre pr'esses lados, me voy a cancelar o projeto que andava discutindo com o Seu Fogação - bagual que só - acerca da tal Usina do Valão, que estávamos por construir num avenidão da Leal e Valerosa.

    E tenho dito!

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