O que quero com esta postagem é instigá-los a pensar o que é ou deveria ser uma democracia. Pensamos que, aparentemente, vivemos num país democrático: nossas discussões partem dessa premissa. Não paramos para analisar se a nossa democracia é, de fato, democrática; apesar de este ser um conceito-chave para a garantia de quaisquer direitos em uma sociedade.
Será que é realmente o povo que toma, mesmo indiretamente, as decisões políticas? A organização política do Brasil é a chamada democracia representativa (democracia indireta), no sentido de que o povo deveria se expressar indiretamente através de seus representantes eleitos. Não quero abordar a questão se, de fato, as decisões dos representantes após serem eleitos seriam as mesmas do povo – não acho (pelo menos por enquanto) que a solução para o problema seja uma democracia direta. Me parece que dificilmente uma autogestão seria efetiva a nível nacional, embora eu a considere como o melhor sistema para tomadas de decisão em pequenas entidades. Na verdade, não acho que seja essa a principal questão. O problema que faz da democracia algo não verdadeiramente democrático, para mim, é o fato de que as grandes tomadas de decisões estão numa outra esfera, acima de qualquer governo. Nas palavras de Saramago:
Ao que vemos, parece que gostamos (e muito!) do que nos impõem de fora; somos governados por sistemas de poder que nos mostram o “melhor caminho”: que é ser como eles. E acreditamos, e gostamos, e queremos ser como eles!
Quando compreenderemos o absurdo que é seguir os mesmos passos político-econômicos da América do Norte? Até quando continuaremos colonizados? Qual seria, realmente, o melhor destino para a América Latina? Quando proporemos um modelo próprio de desenvolvimento? Nas palavras de Galeano:
Por uma verdadeira democracia – um sistema que atenda as reais exigências do povo.
Por um desenvolvimento próprio – que de fato desenvolva (no sentido mais amplo do termo) a América Latina.
Arte de Joaquín Torres García (1943)
Obs.: Esses dois vídeos são pequenas partes de um ótimo documentário denominado “Encontro com Milton Santos : o mundo global visto do lado de cá”, de Silvio Tendler.
Incrível como o sistema opera por cima de nossas cabeças nos deixando essa ilusão de participação!
ResponderExcluirAtravés de grandes consórcios com facilitamento governamental, quem coordena a locomotiva do "desenvolvimento" são as corporações multinacionais. E como nós participamos? Fornecendo trabalho e matéria prima a um preço ínfimo e comprando tecnologia do exterior. Há tempos que democracia deixou de ser o termo adequado... aliás, desde a formação do neoimperialismo estadunidense, o sistema latinoamericano tem padecido de uma corporocracia crônica, que reforça traços de desigualdade e alienação, contrários a um sistema democrático. E aceitamos isso quando nos submetemos a um regime de trabalho que forma a dominância dos dominantes e a subserviência dos dominados. Nos mantemos alienados comprando produtos reconfortantes e assistindo Big Brothers...